Especialistas discutem futuro da cirurgia bariátrica durante congresso em Belém
O 1º Congresso Norte de Cirurgia Bariátrica e Metabólica é uma realização da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica dos capítulos Amazonas, Pará e Rondônia e termina neste sábado (7)

"É cada vez mais presente a ideia para o cirurgião bariátrico de que as indicações para a cirurgia bariátrica não vão ser baseadas única e exclusivamente no Índice de Massa Corporal (IMC) da pessoa". É o que afirmou em Belém, nesta sexta-feira (6), o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Juliano Canavarros. Ele participou do 1º Congresso Norte de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, que começou na quinta-feira (5) e terminará neste sábado (7). “O IMC vai ser uma mera triagem. Hoje a gente já valoriza dados antropométricos, hoje a gente já valoriza o dexa da composição corporal - ou seja, a cirurgia vai ser indicada para o indivíduo e não igual para todo mundo”, completou.
Ele classificou o evento realizado em Belém como “fantástico”. “O Pará sai na frente depois da nova resolução (emitida pelo Conselho Regional de Medicina) da cirurgia da obesidade. Foi o primeiro capítulo a aglutinar com os outros capítulos. O presidente Alexandre Nogueira, do capítulo do Pará, o presidente Márcio Cortez, do Amazonas, e o presidente Thiago Patta, de Rondônia, se uniram para fazer um evento simplesmente de padrão internacional”, observou. Juliano Canavarros destacou que, no primeiro dia da programação, foram realizadas cirurgias bariátricas no hospital Jean Bitar, em Belém. “Ontem foi um dia de cirurgias, de pessoas carentes. Você poder levar dignidade, saúde para essas pessoas é muito importante. E hoje, sexta-feira, discussões bastante aprofundadas com muito conteúdo científico aqui”, afirmou.
Em sua palestra, ele falou sobre a cirurgia bariátrica e metabólica do ado, dos dias atuais e do futuro. E, ao falar do futuro, foi que ele comentou as indicações para a realização de cirurgia bariátrica não vão ser baseadas única e exclusivamente no IMC da pessoa. “Vários fatores vão contribuir para isso: fatores de microbioma, fatores metabólicos, marcadores metabólicos. E tudo com associação da inteligência artificial que vai chegar e falar: ‘para esse paciente é melhor essa técnica’ ou, dentro de uma técnica, pequenas variações que podem ocorrer”, explicou.
VEJA MAIS:
Programa Obesidade Zero, do governo do Pará, já realizou mais de 2 mil cirurgias
O cirurgião bariátrico Carlos Armando falou sobre o Programa Obesidade Zero, qual ele é o coordenador. “ Uma iniciativa do governo do Pará, o programa é destinado para pacientes do tratamento da obesidade. E principalmente, vamos dar o foco aqui, na obesidade grave. São os pacientes que têm indicação de cirurgia bariátrica”, disse. “Então qualquer pessoa pode ar: é só entrar no Google, escrever ‘obesidade zero’, que vai ser direcionado para um site e, aí, ele vai preencher lá os seus dados, analisar seus critérios, se tem indicação de cirurgia ou não, para depois ar com uma triagem definitiva com o cirurgião. E, a partir daí, a gente confirmando a indicação cirúrgica, dá início ao tratamento, na preparação, ar com toda a equipe multidisciplinar para lá na frente ele operar e fazer a cirurgia bariátrica”, explicou.
O programa começou em 2020 com uma meta inicial de realizar 20 cirurgias por mês, ando, depois, para 30. “Hoje nós fazemos 50 cirurgias por mês. Já fizemos mais de 2 mil cirurgias”, informou. “A cirurgia bariátrica é uma cirurgia extremamente segura a gente está na fase de maior segurança da cirurgia bariátrica”, afirmou.
Carlos Armando disse que os casos obesidade vem crescendo no mundo. “E a gente está operando apenas 1% da população que tem indicação de cirurgia bariátrica. A obesidade é uma doença e precisa de tratamento para sempre. A gente precisa acabar com o estigma da obesidade. Acabar com a história de que a obesidade é falta de vontade do paciente. Não. Obesidade sim é uma doença crônica e que merece tratamento para sempre”, disse.
No Pará, em torno de 20% tem obesidade grave e é, portanto, elegível à cirurgia. “E a gente opera apenas 1% dessas pessoas”, disse. As cirurgias do programa Obesidade Zero são feitas no hospital Jean Bitar, que é referência no tratamento da obesidade no Pará por meio do programa Obesidade Zero. Lançado em 2020, o programa oferece cirurgias bariátricas gratuitas, além de acompanhamento clínico e e multidisciplinar aos pacientes. Desde o lançamento do programa até o fim do primeiro trimestre de 2025, mais de 2.031 cirurgias bariátricas já foram realizadas, beneficiando pacientes de diversas regiões do estado.
Cerca de 70% da população brasileira acima do peso, diz especialista
Outro participante do congresso, Antônio Carlos Valezi, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), da qual é membro da comissão executiva, disse que a obesidade hoje é uma doença extremamente prevalente. “Nós temos cerca de 70% da nossa população brasileira acima do peso, e 30% obesa. E você vê que a situação do Pará não é diferente. Então discutir a possibilidade de tratamento, tratamento clínico, tratamento cirúrgico no encontro desse com os profissionais locais, profissionais de outras regiões é importante porque a finalidade é o tratamento do paciente que precisa realmente de ajuda”, afirmou.
Mesmo assim, opera-se pouco no País. “O o de um modo geral aos serviços de saúde credenciados para o tratamento da obesidade é difícil porque, no Brasil, nós temos 74 hospitais credenciados para o tratamento. Isso para uma população elegível de quase 5 milhões. Então você veja que aí vai haver um gargalo muito importante. Teria, portanto, que aumentar esse número de hospitais”, completou.
O cirurgião Alexandre Nogueira, presidente do capítulo do Pará da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, destacou a importância de se debater a obesidade e suas doenças. “A obesidade é uma questão de saúde porque, quando o paciente é obeso, certamente ele tem mais chance de desenvolver doenças que correm junto, como diabetes, apneia do sono, hipertensão arterial”, disse. “Ele tem mais chance de desenvolver derrames, que são AVCs, problemas osteoarticulares. Isso traz algumas limitações para o doente. Então, no tratamento da obesidade, você acaba secundariamente tratando todas essas doenças também que são de relevância e de importância porque são doenças que, ao decorrer da evolução natural, elas podem matar o indivíduo”, afirmou.
O cirurgião também falou sobre os sinais de que a obesidade está se tornando algo preocupante. “Isso é desde a infância. Então, tem que ser cuidado desde a infância. Sedentarismo, alimentação. Os pacientes têm que, desde cedo, ser educados a mudar os hábitos alimentares, mudar os hábitos comportamentais”, disse. “A sociedade moderna é uma sociedade sedentária. Hoje a pessoa não levanta nem para desligar ou ligar uma televisão, por exemplo. É tudo no controle remoto. Então, se isso não for mudado desde cedo, esse paciente tende a ser, certamente, um paciente obeso no futuro. É claro que envolve outros fatores - genéticos, hormonais, comportamentais. A obesidade é uma doença multifatorial e, é claro, tem que ser abordada de uma forma conjunta também".
Alexandre Nogueira deixou claro que existem vários tipos de tratamento para tratar a obesidade e que a cirurgia, hoje, é o tratamento mais eficaz no controle da doença, da doença obesidade mórbida. “É uma cirurgia segura, eficaz e de excelente custo-benefício para o paciente”, garantiu.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA